Para acabar com o mal nuclear

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Eventos tidos como improváveis não só podem acontecer como acontecem.

Desmond Tutu – Valor

Eliminar as armas nucleares é o desejo democrático da população mundial. Ainda assim, nenhum país com armas nucleares atualmente parece preparar-se para um futuro sem esses terríveis artefatos. Na verdade, todos desperdiçam bilhões de dólares para modernizar suas forças nucleares, zombando das promessas de desarmamento na Organização das Nações Unidas (ONU). Se permitirmos que essa loucura continue, o uso eventual de algum desses instrumentos de terror parece quase inevitável.

A crise da energia nuclear na usina de Fukushima, no Japão, serviu como terrível lembrete de que eventos considerados improváveis não só podem acontecer como, de fato, acontecem. Foi preciso uma tragédia de grandes proporções para levar alguns líderes a agir para evitar calamidades similares em reatores nucleares em outras partes do mundo. Não podemos deixar que seja preciso outra Hiroshima ou Nagasaki – ou um desastre ainda maior – antes de finalmente acordar e admitir a necessidade de desarmamento nuclear.

Nesta semana, ministros de Relações Exteriores de cinco países com armamentos nucleares – Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China – se reunirão em Paris para discutir os avanços na aplicação dos compromissos de desarmamento nuclear assumidos em 2010 na conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) de 2010. Será uma prova de sua determinação para tornar realidade a ideia de um futuro livre de armas nucleares.

Caso pensem seriamente em evitar a disseminação dessas armas monstruosas – e em evitar seu uso – trabalharão com vigor e rapidez para eliminá-las completamente. O mesmo padrão deve ser aplicado a todos os países: zero. As armas nucleares são perversas, independente de quem as possua. O indescritível sofrimento humano que infligem é o mesmo, não importa qual bandeira possam ostentar. Enquanto essas armas existirem, existirá a ameaça de seu uso – seja por acidente ou por ato de pura insanidade.

Não podemos tolerar um sistema de apartheid nuclear em que se considera legítimo alguns Estados possuírem armas nucleares mas evidentemente inaceitável que outros tentem obtê-las. Essa moral dupla não serve de base para a paz e segurança mundial. O TNP não é uma licença para as cinco potências nucleares originais se aferrarem a essa armas nucleares indefinidamente. A Corte Internacional de Justiça determinou que são obrigadas a negociar de boa-fé a completa eliminação de suas forças nucleares.

O Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês) acertado entre EUA e Rússia, embora seja um passo na direção certa, apenas arranhará superficialmente os grandes arsenais nucleares dos antigos inimigos da Guerra Fria – que representam 95% do total mundial. Além disso, a modernização das atividades desses e de outros países não podem ser compatíveis com seu apoio declarado a um mundo livre de armas nucleares.

É profundamente perturbador que os EUA tenham destinado US$ 185 bilhões para ampliar seu arsenal nuclear nos próximos dez anos, além do orçamento anual habitual para armamentos nucleares, superior a US$ 50 bilhões. Tão preocupante quanto, é a investida do Pentágono para o desenvolvimento de aviões não tripulados com armas nucleares: bombas H entregues em domicílio por controle remoto.

A Rússia, também, revelou um plano de modernização de armas nucleares em grande escala, que inclui vários novos sistemas de lançamento. Políticos britânicos, paralelamente, querem renovar a envelhecida frota de submarinos Trident de sua Marinha – a um custo estimado em 76 bilhões de libras esterlinas (US$ 121 bilhões). Ao fazê-lo, estarão deixando passar uma oportunidade histórica para assumir a liderança no desarmamento nuclear.

Cada dólar investido na expansão do arsenal nuclear de um país é um desvio de recursos de suas escolas, hospitais e outros serviços sociais e representa um roubo dos milhões de pessoas pelo mundo que passam fome ou não têm acesso a medicamentos básicos. Em vez de investir em armas de aniquilação em massa, os governos deveriam destinar recursos para atender as necessidades humanas.

O único obstáculo à nossa frente para abolir os armamentos nucleares é a falta de vontade política, que pode – e precisa – ser superada. Quase 70% dos países-membros da ONU defendem uma convenção para as armas nucleares similar aos tratados existentes que proíbem outras categorias de armamentos de ação indiscriminada ou particularmente desumanos, desde artefatos biológicos e químicos a minas terrestres antipessoais e munições de fragmentação. Tal tratado é viável e precisa ser buscado com urgência.

É claro que não se pode voltar atrás na invenção das armas nucleares, mas isso não significa que o desarmamento nuclear é um sonho impossível. Meu próprio país, a África do Sul, abriu mão de seu arsenal nuclear nos anos 90, ao perceber que estaria melhor sem essas armas. Por volta da mesma época, os novos estados independentes da Bielorrússia, Cazaquistão e Ucrânia abriram mão voluntariamente de suas armas nucleares e se juntaram ao TNP. Outros países abandonaram seus programas nucleares, reconhecendo que nada de positivo poderia sair dali. O arsenal mundial caiu de 68 mil ogivas no auge da Guerra Fria para 20 mil hoje.

No devido tempo, cada governo acabará aceitando a desumanidade básica que significa a ameaça de obliterar cidades inteiras com armas nucleares. Trabalharão para chegar a um mundo em que tais armas não existam mais – em que o domínio da lei, e não o domínio da força, reine supremo e a cooperação seja vista como a melhor avalista da paz internacional. Tal mundo, no entanto, será possível apenas se as pessoas, de todas as partes, se levantarem para contestar a insanidade nuclear.

Desmond Tutu é vencedor do prêmio Nobel da Paz e defensor da Campanha Internacional de Abolição das Armas Nucleares (www.icanw.org).

Fonte: Notícias Militares

23 Comentários

  1. Simplesmente não irá acontecer…A humanidade nunca deixou de usar uma tecnologia bélica, à não ser que a mesma já estivesse obsoleta. Só iremos abolir armas nucleares quando inventarmos algo mais forte.

  2. E o Brasil… Ó… achando que ser bonzinho é suficiente… achar que não possuindo AN ninguém vai se interessar em despejar uma em nosso belo territorio… qnta ingenuidade… se eles se autodestruirem não vão querer ninguém se saindo bem desta…

  3. ” É claro que não se pode voltar atrás na invenção das armas nucleares…” Isso já diz tudo, e o medo de um passar o outro pra trás…Infelizmente esqueçam isso. SDS.

  4. Eu não acredito que as cinco potências irão acabar com a possibilidade de uma guerra nuclear neste planeta.
    .
    Até por que sempre haverá umas dezenas bombas atômicas “esquecidas” em algum porão bem “esquecido” em algum território desses “distintos governos sérios”;que estão “preocupados” com segurança do planeta Terra.

  5. Demostre fraquesa e colhecine inimigos.
    E toda história da humanide a terra jamais foi um lugar pacífico.E só observar que o ganhador atual do prêmio nobel da paz decretou um guerra e o assassinato de um “terrorista” sem autorização do congresso.
    NÃO podemos demostrar fraquesa frente aos SAQUEADORES porque não terão piedade de nós.

  6. Acabar com as armas nucleares é uma grande utopia. O Brasil precisava ter 1000 bombas atômicas de 1 MT para a sua defesa interna, com o objetivo de intimidar os nossos prováveis futuros inimigos. Se não tivermos, com 99% de certeza seremos invadidos por uma coalizão de países imperialistas.
    Os políticos (que são o Mau na Terra), com o tempo mudam, e loucos belicistas surgem em qualquer país do mundo. Os velhos e ateus, não deveriam governar, pois eles não tem nada a perder, e certamente quererão a guerra para se divertir. Imagine um desses velhos psicopatas governando os EUA, Russia, China, Reino Unido … Os americanos e russos formam uma sociedade neurótica de guerra, e não irão parar de fazer guerras, pois eles sentem prazer com isso. Se eles não se engajarem numa guerra externa, irão lutar entre eles, tal como vimos na Guerra Civil Americana (Secessão). O ser humano é um animal, ora racional, ora irracional.
    Estão lembrados da Guerra Civil dos Paulistas, que exigia uma Constituição Federal democrática de Getúlio Vargas, o nosso ditador revolucionário ? O pai do Presidente Figueiredo defendeu SP, contra Getulio Vargas e os Tenentes.
    Pra mim, ele foi um herói nacional.
    Coronel Figueiredo, um homem honesto e honrado. Que Deus o tenha em bom lugar. O filho dele, General Figueiredo, foi Presidente da República e não gostava do Sarney. Teve os seus motivos, né ? Os Figueiredos eram homens puros e idealistas. Grandes Brasileiros.
    Heróis como esses não podem ser esquecidos. Castelo Branco, também foi grande. Homem sério e honesto.

  7. ‘É profundamente perturbador que os EUA tenham destinado US$ 185 bilhões para ampliar seu arsenal nuclear nos próximos dez anos, além do orçamento anual habitual para armamentos nucleares, superior a US$ 50 bilhões. Tão preocupante quanto, é a investida do Pentágono para o desenvolvimento de aviões não tripulados com armas nucleares: bombas H entregues em domicílio por controle remoto.

    A Rússia, também, revelou um plano de modernização de armas nucleares em grande escala, que inclui vários novos sistemas de lançamento. Políticos britânicos, paralelamente, querem renovar a envelhecida frota de submarinos Trident de sua Marinha – a um custo estimado em 76 bilhões de libras esterlinas (US$ 121 bilhões). Ao fazê-lo, estarão deixando passar uma oportunidade histórica para assumir a liderança no desarmamento nuclear.’
    Enquanto isso, as potências nucleares pressionam os outros países para que abdiquem de armas nucleares…
    Não tem outra saída, ou ninguém têm(o que não acontecerá),ou todos devem ter o direito de ter.
    Nukes para o Brasil, urgente…

  8. Ninguém quer ser o penúltimo a desativar suas armas nucleares. Todos querem ser o último. Infelizmente é um mal que parece estar longe de acabar e ao contrário, o número de nações com armas nucleares está aumentando.

    []’s

  9. EUA e Reino Unido estão se preparando para a III GM. Estão certos. O Brasil é que está errado em não se preparar, pois o terreno de batalha (TO) poderá ser na América Latina, África, China, OM e Coreia do Norte, e depois passar para os próprios países beligerantes.
    O mundo sempre viveu em guerras.

  10. Rússia adverte Otan sobre redução de chances de acordo antimísseis
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    “(…)A Rússia advertiu neste domingo à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que as chances de se conseguir um acordo sobre defesa antimísseis estão se esgotando devido à resistência dos países da Aliança em cooperar em plano de igualdade.
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    “Embora a janela de chances para se conseguir um acordo esteja nitidamente se estreitando, ainda não fechou totalmente”, afirmou Aleksandr Grushko, vice-ministro das Relações Exteriores russo, citado pelas agências de notícias russas.(…)”

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    http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/1759/Russia-adverte-Otan-sobre-reducao-de-chances-de-acordo-antimisseis

  11. Nós um somos pais pacifico, vamos tomar na cabeça nunca vão terminar com estes armamento só o Brasil mesmo acreditar nisso.

  12. O engraçado é que as pessoas que têm essa opinião achão que o mundo é cor de rosa e tudo irá acabar em flores.

    A guerra faz parte da natureza do ser humano, nunca houve um período de paz no mundo, nem haverá. Pode haver talvez uma paz relativa para alguns, mas os fracos sempre sofrerão com a guerra.

    A minha frase para essas pessoas é: NÂO TENTE MUDAR A REALIDADE. ADAPITE-SE A ELA..

  13. Procede a informação que existe artefato nuclear que pode em 20 minutos alcançar qualquer parte do planeta? Se for assim, Tem nem como correr pro bunker!

  14. Jonnas,
    O tempo médio de corrida de um ICBM é de 20/25 minutos mesmo, para alcances em torno de uns 13.000 km.
    Países com grandes extensões territoriais como a China, EUA e Rússia conseguem a partir do seu território atingir praticamente qualquer parte do globo com mísseis com alcance de 11.000 a 13.000 km.
    Somando-se a isso há os SLBM, lançados de submarinos, que não raro possuem alcance superior a 8.000 km (chegando a 12.000 km) e que podem se posicionar de modo a cobrir qualquer ponto do globo.
    Ou seja, “pernas pra que te quero”. rsrssss

  15. Uma arma interessante que está sendo desenvolvida é a arma nuclear de 4ªG (alguns classificam como sendo de quinta geração)
    Tal arma de fusão (termonuclear) não precisa de um iniciador (gatilho) de fissão, podendo efetuar a detonação “à frio”.
    As vantagens desse tipo de arma são inúmeras, tais como o rendimento da mesma não depender de uma “massa crítica” de material fissionável, e portanto, ter sua potência regulada pela quantidade de material fusionável (Ex: deutério), a exemplo do que ocorre com explosivos convencionais.
    No futuro poderá haver explosões nucleares com o rendimento de 0,01 Kt ou seja, equivalente a 10 toneladas de TNT (ou menos).
    Um torpedo ou um míssil antinavio poderia ser armado com uma pequena ogiva de fusão com a potência de 10 toneladas de TNT e apenas um poderia neutralizar um porta-aviões.
    Outra grande “vantagem” seria a não existência de radiação residual, se comportando como uma explosão convencional.
    Tais atributos irão viabilizar o emprego tático de armas nucleares, tornando-as politicamente corretas, sem falar que não estão incluídas em nenhum tratado, dificultando seu controle.
    Como não dependem de material físsil, dificulta a fiscalização e controle por parte dos órgãos competentes.

  16. Bosco, acho que sei em teoria como fazer a bomba “”fria””. Sei em teoria fazer a bomba “”quente”” tambem.

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