Como vencemos a baixaria espanhola na FAO

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Graziano venceu ‘golpes baixos’ do candidato espanhol, diz Itamaraty

Na acirrada eleição pelo comando da FAO, o ministério das Relações Exteriores acredita ter vencido ‘golpes baixos’ do rival espanhol, Miguel Ángel Moratinos, contra José Graziano da Silva. Adversário espalhou que brasileiro era candidato de Lula, mas não de Dilma Rousseff, usou ‘prestígio’ da realeza espanhola e tentou ‘intimidar’ países menores, segundo porta-voz do Itamaraty. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Tovar da Silva Nunes revela detalhes da vitoriosa campanha de Graziano.

André Barrocal

BRASÍLIA – José Graziano da Silva, o brasileiro eleito para dirigir a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) nos próximos três anos, foi nomeado assessor especial da presidenta Dilma Rousseff no dia 22 de março. Ocorrida em plena campanha pelo cargo que controla o maior orçamento de todas as agências da ONU, a nomeação foi um lance eleitoral. Buscava neutralizar um dos “golpes baixos” do candidato espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que espalhara ser Graziano candidato do ex-presidente Lula, não do governo Dilma.

Nada mais falso, segundo o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Tovar da Silva Nunes.

Recém-empossada, ainda em janeiro, Dilma fez algumas reuniões com o ministro Antonio Patriota, para definir agendas internacionais e prioridades da política externa. “A eleição na FAO foi uma das prioridades desde o início, a presidenta Dilma não teve dúvidas”, conta Nunes.

Desde então, Patriota sempre “embutiu” o assunto nos contatos com chanceleres pelo mundo. Foi assim ao viajar aos Estados Unidos para preparar a visita do presidente Barack Obama ao Brasil. Ou quando acompanhou Dilma em viagem oficial à China. Ou quando decolou sozinho para encontros no Sri Lanka, Catar, Egito, Colômbia e Venezeula, por exemplo.

O ponto alto das perigrinações do chanceler, na visão do Itamaraty, foi a reunião de Cúpula da Comunidade do Caribe (Caricom) realizada no fim de fevereiro, na ilha de Granada. Patriota voltava de um encontro do Conselho de Segurança da ONU, passou na Caricom e conseguiu que os 14 países caribenhos assinassem resolução declarando apoio a Graziano publicamente. “Essa ação na Caricom foi decisiva, fundamental para a eleição na FAO”, diz o porta-voz do ministro.

O próprio Graziano esteve em Granada fazendo campanha. Desde janeiro, o brasileiro rodou o mundo pedindo votos. Iniciou a campanha como observador do governo na XVI Cúpula da União Africana, na Etiópia, em janeiro. Passou por 24 países. Em alguns, por mais de uma vez, como a Itália, sede da FAO. Esteve em nações mais destacadas no cenário internacional, como EUA, Rússia e França, mas também em lugares menores, como Fiji e Nova Zelândia.

A seguir, em entrevista exclusiva concedida à Carta Maior, o porta-voz do Itamaraty conta detalhes sobre vitoriosa campanha brasileira pelo comando da FAO.

– Como foi a campanha do Graziano?

Tovar da Silva Nunes:  Não foi fácil. Havia o reconhecimento de que o candidato brasileiro tinha as melhores credenciais, mas o candidato espanhol insistia em oferecer vantagens a países asiáticos e africanos que ainda não está muito claro quais são. Ele usou o prestígio da realeza espanhola e tentou quebrar a unidade da América Latina. O México não votou no Brasil.

– Quais foram os maiores aliados do Brasil?

Nunes:  A África do Sul declarou abertamente o voto no Graziano, somos particularmente gratos a eles. A Argentina, quem diria isso em outro tempos, fez campanha para nós, arquitetou muito nos corredores da FAO. Portugal teve um papel importante junto aos países de língua portuguesa. Eu também destacaria o apoio da Indonésia e seu candidato no segundo turno.

– Essa aliança com a Indonésia foi negociada ali na hora?

Nunes:  Não, não houve tempo para negociações. Foi uma decisão deles. Os países em desenvolvimento perceberam que não podiam abrir mão dessa oportunidade de ter uma representante dirigindo a FAO, a agência com o maior orçamento da ONU .

– Houve alguma decepção para o Brasil?

Nunes:  O México. Embora o voto seja secreto, temos certeza de que o México votou no Moratinos. Lá na FAO, fazíamos reuniões numa sala chamada justamente Sala México, e só quem não se reunia conosco eram eles [os mexicanos]. O México tem problemas parecidos com os brasileiros, tem necessidade de inclusão social como o Brasil, uma pena ter agido assim.

– E a China e os Estados Unidos, que foram procurados pelo ministro, como votaram?

Nunes:  Os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU não costumam manifestar apoio publicamente, não sabemos.

– Quando o governo sentiu que o Graziano ganharia?

Nunes:  Só na hora, mesmo. Percebemos que o espanhol tinha uma técnica de intimidação, presenciamos isso com um país da América Latina. Eles diziam: ‘vocês não sabem o que estão fazendo votando no Brasil’. Foi uma atitude de força. O Moratinos também espalhou que o Graziano era o candidato do ex-presidente Lula, mas não do governo Dilma. Houve uma tentativa de denegrir a imagem do candidato brasileiro.

Fonte:  Carta Maior

13 Comentários

  1. … “países em desenvolvimento perceberam que não podiam abrir mão dessa oportunidade de ter uma representante dirigindo a FAO, a agência com o maior orçamento da ONU .”
    ——
    Argentina, África do Sul, Portugal Indonésia ,não surpreenderam, e México continua sendo marionetado como a Espanha, lógico, advinhem por quem(s).
    É , está rolando uma revolução nos bastidores da Onu e outros tribunais, quem diria, uniões até então impossíveis, e até provas de fidelidade.
    Haja inveja mas…
    Avante Brasil.

  2. “O México não votou no Brasil.”

    “A África do Sul declarou abertamente o voto no Graziano”

    “A Argentina, quem diria isso em outro tempos, fez campanha para nós, arquitetou muito nos corredores da FAO.”

    “Portugal teve um papel importante junto aos países de língua portuguesa”

    Política nacional, internacional, é um covil.
    o MÉXICO, pobre méxico, tão perto e tão longe, igual a Chaves e Chapolin.

    A ARGENTINA, lo que passa con los hermanos???
    Fazerem campanha pro BRASIL, hã? Li isso mesmo?

    Portugal é um país que ultimamente vem apagando a má impressão do passado, já a ÁFRICA DO SUL a cada dia me facina mais.

    Creio que o Brasil tem que ter relações “carnais”, rsrs, com estes países…
    … e os chicanos que se explodam com o Tio Sam.

  3. Se conseguimos apoio,dentre outros, dos latinos em geral, já é um bom começo.Quando o trabalho é bem feito temos a obrigação de elogiar.SDS.

  4. O Brasil também não apoiou o candidato do mexico a FMI, queria o quê. É claro que a eleição do brasileiro passa por contrapartidas, nada é fácil na vida, agora o Brasil tem que honrar o cargo e fazer melhor do que eles os chamados ‘desenvolvidos’, senão será esforço inutil…

  5. Tudo isso faz parte do jogo e nós já estamos bem informados,
    portanto ou se joga ou cede o lugar a outro player. Nesse tipo de competição as regras fixas da diplomacia são mera retórica, os coringas estão mesmo é nos bastidores, por trás das cortinas. O resto é choro de perdedor. Segue o jogo.

  6. O México não votou no Brasil ?
    Vamos nos afastar do México e da Espanha. Pronto.
    Agora, se Graziano está alinhado com o Lula (O pai dos banqueiros e especuladores financeiros), eu preferiria o espanhol na FAO. Lula não dá mais … Dilma está fazendo um bom governo.

  7. Vamos faze assim?
    Comparar a agricultura brasileira e a espanhola e saber quem entende mais do assunto.
    Não tem mais o que discutir.

  8. Conquistada a FAO, e após todo o oba-oba da imprensa aparelhada, fica a pergunta celebrizada por Lênin: Que fazer?. O ideal seria aproveitar a expertise desenvolvida por órgãos como a EMBRAPA para vencer o desafio de dobrar a produção de alimentos sem devastar áreas de floresta, permitir a chegada de tecnologia agrícola para os países pobres da África, Ásia e América Latina e também investir contra os vergonhosos subsídios agrícolas da decrépita União Européia. Mas não vislumbro que isso venha a contecer: José Graziano não possui as credenciais para o cargo. Enquanto respondeu pelo tão falado Programa Fome Zero, não zerou a fome de ninguém. Assim, o mais provável é que em sua gestão na FAO Graziano vai observar o problema do aumento dos preços dos alimentos tão somente para bater na velha tecla de que isso é “culpa dos países capitalistas – hegemônicos que por meio da especulação financeira provocam o aumento do custo dos alimentos para oprimir os países do terceiro mundo”. Qualquer semelhança com as batidas justificativas que o megalonanico Celso Amorim apresentava quando de seus fracassos no campo diplomático não é mera coincidência….

  9. Isso é apenas o começo de novos tempos; acostume-se com essas vitórias e cargos importantes em organizações internacionais por brasileiros. Essas instituições são dominadas por poder e dinheiro. O mundo tem mudado a cada dia; quem tinha dinheiro está mendigando(Europa) ou totalmente endividado(EUA). Em não mais que 10 anos o mundo será muito diferente com China, Índia, Russia, Brasil, África do Sul..e até o Irã aparecendo cada vez mais como protagonista. Força, Poder e Dinheiro…isso é o que decide.

  10. Desculpe caro Nobru mas discordo em parte de você. Não creio que essa sua tão anunciada derrocada dos EUA vá acontecer em 10 anos. De fato quase todos os países que você listou vão exercer maior protagonismo ainda que os fatos e o Wikileaks comprovem que o delírio esquerdista de BRICS unidos mandando no mundo seja apenas isso, delírio. Mas é preocupante ver um país como a China crecendo assustadoramente às custas da exploração de países africanos e de nossos promíscuos políticos e empresários cafetões de commodities. Por fim, não creio que o Irã vá ser protagonista de algo. A mídia aparelhada não conta mas as sanções da ONU estão começando a surtir o efeito esperado. A taxa de desemprego por lá está na casa dos 15%, sendo que entre os jovens alcança o percentual de 30%. Da mesma forma tem ocorrido uma fuga de cérebros. Segundo estatísticas do FMI 180 mil iranianos deixam o país a cada ano em busca de uma vida melhor. E com o fim de evitar que a insatisfação social descambe para protestos e a eventual queda do regime teocrático-fascista-medieval, Teerã solicitou ajuda do governo Brasileiro para implantar por lá um programa assistencialista nos moldes do bolsa-familia. Dê só uma olhada:
    http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-brasil-de-bracos-dados-com-o-ira-e-agora-numa-parceria-efetiva-o-que-mudou/

    Voltando à FAO, que adianta ganharmos posições em cargos importantes em organismos internacionais se não tivermos boas propostas e idéias(não é o caso) e bons quadros(também não é o caso mas não foi o que aconteceu. Todos nós sabemos que Graziano não possui as credenciais para o cargo, em que pese a mídia aparelhada e os blogueiros do governo insistirem no contrário. E também sabemos que essa indicação não pertence à nossa presidente e sim aos esquerdopatas que ocuparam e ocupam o GF e o Itamaraty que propõem “um mundo mais justo, regido pela paz e pela justiça” mas que nunca se fizeram de rogados para defender ditadores árabes e africanos homicidas, congratular vencedores em eleições fraudadas assim como escarnecer dos populares que protestam contra a fraude, e forjar acordos nucleares mal intencionados e fajutos.
    FInalizando: essa é a primeira vitória diplomática do Brasil após muitas e fragorosas derrotas. Segue a lista dos insucessos, todos eles de autoria dos esquerdopatas e de Celso Amorim(seria redundância chamá-lo de esquerdopata?)

    NOME PARA A OMC
    Amorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que votou no Brasil? O Panamá!!! Culpa do Itamaraty, não de Seixas Corrêa.

    OMC DE NOVO
    O Brasil indicou Ellen Gracie em 2009. Perdeu de novo. Culpa do Itamaraty, não de Gracie.

    NOME PARA O BID
    Também em 2005, o Brasil tentou João Sayad na presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil – do Mercosul, apenas um: a Argentina. Culpa do Itamaraty, não de Sayad.

    ONU
    O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e justificados, a Colômbia.

    CHINA
    O Brasil concedeu à China o status de “economia de mercado”, o que é uma piada, em troca de um possível apoio daquele país à ampliação do número de vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A China topou, levou o que queria e passou a lutar… contra a ampliação do conselho. Chineses fazem negócos há uns cinco mil anos, os petistas, há apenas 30…

    DITADURAS ÁRABES
    Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras árabes do Oriente Médio.

    CÚPULA DE ANÕES
    Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância… No Irã, agora, ele tentou ser rival de Barack Obama…

    ISRAEL E SUDÃO
    A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, o país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida, que praticou os massacres de Darfur – mais de 300 mil mortos! Por que o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?

    FARC
    O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a respeito.

    RODADA DOHA
    O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre. Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.

    UNESCO
    Amorim apoiou para o comando da Unesco o egípcio anti-semita e potencial queimador de livros Farouk Hosni. Ganhou a búlgara Irina Bukova. Para endossar o nome de Hosni, Amorim desprezou o brasileiro Márcio Barbosa, que contaria com o apoio tranqüilo dos Estados unidos e dos países europeus. Chutou um brasileiro, apoiou um egípcio, e venceu uma búlgara.

    HONDURAS
    O Brasil apoiou o golpista Manuel Zelaya e incentivou, na prática, uma tentativa de guerra civil no país. Perdeu! Honduras realizou eleições limpas e democráticas. Lula não reconheceu o governo.

    AMÉRICA DO SUL
    Países sul-americanos pintam e bordam com o Brasil. Evo Morales, o índio de araque, nos tomou a Petrobras, incentivado por Hugo Chávez, que o Brasil trata como uma democrata irretocável. Como paga, promove a entrada do Beiçola de Caracas no Mercosul. Quem está segurando o ingresso, por enquanto, é o Parlamento… paraguaio! A Argentina impõe barreiras comerciais à vontade. E o Brasil compreende. O Paraguai decidiu rasgar o contrato de Itaipu. E o Equador já chegou a seqüestrar brasileiros. Mas somos muito compreensivos. Atitudes hostis, na América Latina, até agora, só com a democracia colombiana. Chamam a isso “pragmatismo”.

    CUBA, PRESOS E BANDIDOS
    Lula visitou Cuba, de novo, no meio da crise provocada pela morte do dissidente Orlando Zapata. Comparou os presos políticos que fazem greve de fome a bandidos comuns do Brasil.

    IRÃ, PROTESTOS E FUTEBOL
    Antes do apoio explícito ao programa nuclear e do vexame de agora, já havia demonstrado suas simpatias por Ahmadinejad e comparado os protestos das oposições contra as fraudes eleitorais à reclamação de uma torcida cujo time perde um jogo.

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