Equilíbrio entre governo e mercado é sucesso no Brasil, diz economista-chefe da OCDE

http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:XgqRmHCysjEMEM:http://farm4.static.flickr.com/3439/3303558302_e0bc2b6066_m.jpg&t=1O italiano Pier Carlo Padoan, secretário-geral adjunto e economista-chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), vê o Brasil como uma “história de sucesso” no contexto da crise financeira global porque soube encontrar um novo equilíbrio entre o livre mercado e a intervenção do Estado na economia.

Em entrevista à BBC Brasil, Padoan diz que o “Brasil encontrou um equilíbrio importante entre o crescimento econômico e as questões sociais” embora possa crescer mais se houver melhorias na educação e no sistema fiscal.

Ele fala também dos desafios da Europa diante da crise econômica global e diz que essa “é uma oportunidade importante para mudanças positivas” no continente.

BBC Brasil – Por que o Brasil atravessou melhor a crise do que as economias ricas da OCDE?

Pier Carlo Padoan – Acho que o Brasil, como outros países emergentes, mostrou uma grande capacidade para reagir à crise atual. Isso é o resultado do aprendizado com crises passadas. Eu me lembro muito bem da transformação efetuada pelo Brasil na primeira metade dos anos 2000 porque trabalhava no Fundo Monetário Internacional naquela época. Agora, a performance do Brasil é muito favorável. No início de 2000, a taxa de crescimento da economia brasileira era muito baixa e atualmente é muito forte. Isso não é algo que possa ser obtido sem transformações importantes.

BBC Brasil – Quais foram as mudanças no Brasil nesse período?

Padoan – O Brasil é uma história de sucesso porque o país encontrou um novo equilíbrio entre a livre concorrência dos mercados e a intervenção do Estado na economia. É um caso muito interessante de sucesso, que é certamente permanente porque é o resultado de uma transformação estrutural da relação entre os setores público e privado na economia.

BBC Brasil – O senhor pode dar um exemplo dessa transformação estrutural?

Padoan – A questão fiscal e as relações entre o governo central e os dos Estados, discutida há alguns anos, é um elemento importante. O problema foi resolvido com uma solução nacional e é também uma lição para outros países que têm uma estrutura federal, como o Canadá, a Índia, a Suíça e também a Itália. Menciono também a vitalidade da indústria brasileira, sua capacidade para ter posições competitivas importantes em setores avançados, como a aeronáutica.

BBC Brasil – O que mais pode ser destacado nessa relação entre os setores público e privado no Brasil ?

Padoan – O Brasil encontrou um equilíbrio importante entre o crescimento econômico e as questões sociais. O país encontrou mecanismos de transferência de renda à população. É impossível encontrar soluções que sirvam a todos os países. Cada país deve refletir em função de sua história, de suas instituições e de sua cultura para encontrar soluções para os problemas estruturais.

BBC Brasil – No caso da Europa, quais são os principais desafios pós-crise?

Vimos claramente que uma zona monetária não pode sobreviver se os equilíbrios internos não são levados em conta. Estou otimista. A crise trará transformações positivas do ponto de vista institucional também.

Pier Carlo Padoan

Padoan – Os desafios da Europa são, ao mesmo tempo, econômicos e institucionais. O grande desafio econômico, que já existia antes da crise, é o de conseguir a retomada do crescimento. A Europa deve reforçar o motor do crescimento com uma nova interpretação do modelo de integração europeia, principalmente nas áreas das novas tecnologias ambientais. Do ponto de vista institucional, a crise na Grécia mostrou que a zona euro precisa precisa reforçar a governança econômica, que abrange também a competitividade dos países e a estabilidade financeira. É preciso maior crescimento para melhorar o bem estar social na Europa, mas também para assegurar a estabilidade das receitas fiscais, já que a crise econômica provocou a crise das finanças públicas.

BBC Brasil – A demora em socorrer a Grécia não demonstraria que a Europa ainda está longe de ter uma governança econômica?

Padoan – Vemos claramente que o governo grego, mas também Espanha, Portugal e Irlanda, que sofrem pressões para controlar os orçamentos, criaram programas de reformas muito ambiciosos, muito rigorosos. É uma nova demonstração de que as crises podem ser uma oportunidade importante para mudanças positivas. Não apenas dos governos individualmente, mas também em relação às instituições europeias. A Europa decidiu ativar novos instrumentos, sobretudo o Fundo para a Estabilização Financeira, que é uma forma embrionária de um fundo monetário regional, como também a revisão dos pactos de estabilidade (acordo que visa a evitar déficits públicos excessivos), com uma fiscalização mais rigorosa, e ainda aspectos em relação à competitividade para evitar que existam divergências entre os países da zona euro. Vimos claramente que uma zona monetária não pode sobreviver se os equilíbrios internos não são levados em conta. Estou otimista. A crise trará transformações positivas do ponto de vista institucional também.

BBC Brasil – Vários governos europeus questionaram as políticas de apoio econômico e lançaram planos de austeridade. Qual seria a solução? É preciso manter o apoio do Estado para evitar a recessão, ou planos de austeridade são necessários para evitar novas crises financeiras?

Padoan – A crise é grave e os ajustes também devem ser severos. A situação nos mercados ficou agora sob controle. Os mercados responderam positivamente aos planos de austeridade da Grécia e de outros países. Certamente, os planos de ajustes a médio prazo, para reconquistar a confiança dos mercados, terão um pouco de impacto sobre o crescimento econômico, mas é o preço que deve ser pago para haver credibilidade das políticas fiscais e monetárias. É um desafio para a Europa, mas também para outros países. O problema da dívida insustentável a longo prazo existe em todos os países ricos.

BBC Brasil – O papel regulador do Estado é hoje maior na Europa?

Padoan – O Estado tem muitos papéis. Claro que há o papel de apoio macro-econômico, que vai diminuir porque é preciso reduzir a dívida pública. O papel regulatório do Estado também é muito importante. O papel do Estado é o de definir regras e é também necessário ter instrumentos para aplicá-las. O exemplo mais evidente hoje é o da reforma do sistema financeiro, que deve ser, ao mesmo tempo, uma tarefa nacional, mas também internacional. O G20 deve ter um papel importante nessa questão.

BBC Brasil – Podemos dizer que há uma mudança na Europa após a crise? A presença do Estado em termos de regulação se tornou maior?

Padoan – A crise mostrou que há falta de regras e também de fiscalização. É preciso ter regras adequadas e colocá-las em prática. O Estado precisa ser reforçado em termos de novas regras, é isso o que representa a reforma financeira. Mas é necessário ter também instrumentos de fiscalização em relação às operações bancárias e dos mercados financeiros. A crise reforçou o papel das instituições internacionais, como o FMI, o Banco Mundial. Desse ponto de vista, podemos dizer que há mais presença, mas não quero dizer do Estado, prefiro utilizar a palavra governança.

BBC Brasil – A crise trouxe novas perspectivas para o setor privado?

Padoan – A crise colocou em evidência que é preciso mudar o modelo de crescimento econômico. Devemos encontrar novas fontes de crescimento – a inovação, a expansão das atividades ligadas às questões ambientais. É preciso mudar a utilização dos recursos e é preciso ter mecanismos para facilitar isso. Estamos desenvolvendo estratégias para o chamado crescimento verde. As mudanças climáticas também são uma oportunidade para mudar o modelo do crescimento.

O Brasil pode melhorar seu sistema fiscal. Há margens para o Estado melhorar sua arrecadação e também ser mais eficaz na utilização dos recursos. Se houver progressos nessas áreas, haverá um crescimento forte a longo prazo.

Pier Carlo Padoan

BBC Brasil – Quais são as lições que o setor privado pode tirar com a crise ?

Padoan – O setor financeiro aprendeu que ter uma perspectiva de curtíssimo prazo, segundo a qual os lucros a curto prazo são o único fator importante, não é boa. O setor privado não financeiro aprendeu que é preciso ter regras e instituições mais eficazes para orientar os recursos com uma visão de longo prazo. O espírito empresarial deve ser reforçado. É uma lição para o setor privado, mas também para o setor público.

BBC Brasil – O senhor elogiou bastante o Brasil. Quais são os principais aspectos que o país precisa melhorar?

Padoan – O Brasil é um grande país com uma taxa de crescimento forte, que demonstrou sua capacidade para enfrentar uma grande crise melhor do muitos outros países. Há várias ações que podem ser feitas para melhorar a situação e aumentar a capacidade de crescimento. A OCDE divulgou um estudo chamado “Para o Crescimento”, que analisa os desafios estruturais dos países membros da organização e de outros não-membros, como o Brasil. No caso do Brasil, identificamos margens de crescimento potencial associadas à melhoria do sistema educacional, ou seja, do capital humano, e também ligadas à inovação do país. O Brasil pode melhorar seu sistema fiscal. Há margens para o Estado melhorar sua arrecadação e também ser mais eficaz na utilização dos recursos. Se houver progressos nessas áreas, haverá um crescimento forte a longo prazo.

BBC Brasil – O governo brasileiro atual não demonstra interesse em se tornar membro da OCDE. O sr. espera que o novo governo que sairá das urnas mude de posição?

Padoan – O Brasil não é membro da OCDE, mas fazemos muitas coisas juntos. A questão da adesão é bilateral. Os países membros devem se interessar em ter o Brasil como membro, mas o Brasil também deve ter o interesse de se tornar membro oficial permanente. É um objetivo de médio prazo. Para reforçar as atividades entre o país e a organização, é preciso demonstrar ao Brasil que a OCDE pode ser útil para a política brasileira e mostrar aos outros países que é importante ter o Brasil na família. Vemos, a cada dia, uma melhoria nas relações entre o Brasil e os outros países. O convite para ser membro é a conclusão de um processo diplomático de conhecimento recíproco. Esse processo já começou há muito tempo.

Fonte: BBC Brasil

8 Comentários

  1. Ele está dizendo,em alto e bom som,o que Bresser-Pereira tem dito sobre os neoliberais:são assaltantes do mercado e do Estado.
    Estado e mercado são complementares.Apenas na ideologia reacionária dos neoliberais existe uma contraposição radical.

    Assalto ao Estado e ao mercado, neoliberalismo e teoria econômica

    Luiz Carlos Bresser-Pereira
    Estudos Avançados, 23 (66): 7-23.

    State and market are complementary institutions. The state is the major institution coordinating modern societies it is the constitutional system and the organizations guaranteeing it it is the main instrument through which democratic societies have been changing capitalism so as to achieve their own agreed political objectives. Markets are institutions based on competition which the state regulates so that they contribute to the coordination of the economy. While liberalism emerged in the 18th century to fight an autocratic state, since the 1980s neoliberalism (a major distortion of economic liberalism) became dominant and mounted a political assault to the state in the name of the market, but eventually also attacked the market. Neoclassical macroeconomics and public choice theory were the meta-ideologies that gave to this assault a “scientific” and mathematical allure.

    Em português:

    http://www.bresserpereira.org.br/Papers/2009/09.14.Assalto_Estado_mercado_neoliberalismo_crise_global.pdf

  2. Agora os experts do mundo vão ficar mirabolando teorias e complexas equações para explicarem e entenderem a ascenção Brasileira…É simples,não precisa esquentar a cabeça.É muita riquesa e diversidade em um unico lugar.Descaso publico com o povo.Mão de obra barata,salario de fome.Facilitação e isenções a industrias extrangeiras.Simples não é mesmo?

  3. 1.”Menciono também a vitalidade da indústria brasileira, sua capacidade para ter posições competitivas importantes em setores avançados, como a aeronáutica”

    2.”O Brasil encontrou um equilíbrio importante entre o crescimento econômico e as questões sociais”

    3.”É preciso maior crescimento para melhorar o bem estar social na Europa, mas também para assegurar a estabilidade das receitas fiscais, já que a crise econômica provocou a crise das finanças públicas”

    4.”as crises podem ser uma oportunidade importante para mudanças positivas”

    5.”O problema da dívida insustentável a longo prazo existe em todos os países ricos.”

    6.”Estado tem muitos papéis. Claro que há o papel de apoio macro-econômico, que vai diminuir porque é preciso reduzir a dívida pública.”

    7.”reforma do sistema financeiro, que deve ser, ao mesmo tempo, uma tarefa nacional, mas também internacional. O G20 deve ter um papel importante nessa questão.”

    8.”A crise colocou em evidência que é preciso mudar o modelo de crescimento econômico. Devemos encontrar novas fontes de crescimento – a inovação, a expansão das atividades ligadas às questões ambientais.”

    9.”O Brasil pode melhorar seu sistema fiscal. Há margens para o Estado melhorar sua arrecadação e também ser mais eficaz na utilização dos recursos. Se houver progressos nessas áreas, haverá um crescimento forte a longo prazo.”

    Olha, o cara pode ser da OCDE ou da liga intergalatica de economia, mas eu discordo em muitos pontos do que ele falou.

    1. A industria brasileira só se desenvolve por causa da mãe que é o estado, e somente em alguns setores! O estado tem de ser regulador! e não mantenedor perpétuo da coisa.

    2. Será que este equilibrio lindo que vemos todo o dia, sem a mãe que é o estado, continuaria a existir?

    3. A 3 explica-se na 8.

    4. Será que nenhum P.H.D já sabia que iria ocorrer? Ou foi executada para que se realmente mude a estrutura economica, ou melhor, acostumar-nos à aceitar mudanças globais. Será que a mudança ocorrerá porque são bonzinhos?

    5. Ele quis dizer com isto o defict interno? Foi uma frase para fazer-nos crer que paradigmas globalistas são a melhor coisa a ser implantada em qualquer país?

    6. Tomara que ele tenha querido dizer com isto a reforma tributária!

    7. De novo! A crise implantada para forçar uma conjuntura global mais unificada, e maior controle global.

    8. Quanto à o verdismo exacerbante. Não tem nada a ver com aquecimento global(forjado de novo), matinhos morrendo nem nada. É falta de recursos mesmo para abastecerem o consumismo acelerado.

    9. Eu considero plenamente o que falou nisto.

    OCDE, o país não precisa disto, e precisa trabalhar para que não precise um dia, e para isto, terá de lugar contra forças muito poderosas.

  4. 1maluquinho :
    Agora os experts do mundo vão ficar mirabolando teorias e complexas equações para explicarem e entenderem a ascenção Brasileira…É simples,não precisa esquentar a cabeça.É muita riquesa e diversidade em um unico lugar.Descaso publico com o povo.Mão de obra barata,salario de fome.Facilitação e isenções a industrias extrangeiras.Simples não é mesmo?

    Ou seja, modêlo chinês.Vc está absolutamente certo, Sds.

  5. Vamos ajuntar todos os politicos e banqueiros extrangeiros,colocando-os em um grande caldeirão e fazer uma sopa.Mas antes deixa-los de molho 72 horas em solução pura de cloro.Depois de cozidos e consumidos,dissecaremos seus cranios com inserção de pedras de enxofre quente,para serem vendidos nos camelodromos como espantador de nenem.

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