Vale apena ver de novo: Na Amazônia está em jogo o futuro do Brasil, diz Mangabeira

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Sugestão: André Oliveira
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Roberto Mangabeira Unger, voltou às manchetes nesta semana por dois motivos.

O primeiro foi sua indicação para coordenar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), um projeto para desenvolver a região de forma equilibrada. O segundo foi a sugestão de que sua indicação teria levado Marina Silva a se demitir do cargo de minista do Meio Ambiente.

Em relação ao plano, o ministro diz que ninguém está preparado para uma tarefa dessa magnitude. Quanto à ministra, ele é suscinto. “Não posso especular sobres os motivos.”

O ministro falou com exclusividade à BBC Brasil e à BBC inglesa na quarta-feira, em Manaus, onde esteve para discutir os primeiros passos do PAS com o governador do Amazonas, o peemedebista Eduardo Braga.

Ele disse que o modelo econômico adotado na região amazônica terá um impacto em todo o país. “O que está em jogo na Amazônia é o futuro do Brasil.”

De olho no público externo, Mangabeira Unger conversou com a reportagem da BBC em inglês, com um leve sotaque americano.

BBC – A ministra Marina Silva renunciou apenas cinco dias após a apresentação do Plano de Aceleração Sustentável (PAS) para a Amazônia. O que essa renúncia significa?

Roberto Mangabeira Unger – Eu não devo e não vou especular sobre as razões da renúncia. Tudo que eu posso dizer é que estou entre os muitos admiradores da ministra no Brasil. Ela é corajosa, tenaz e uma cidadã esperançosa que dedicou a maior parte da sua vida para defender uma causa de grande importância nacional. Em segundo lugar, eu devo dizer que o compromisso fundamental do governo com o desenvolvimento sustentável na Amazônia permanece inalterado. E nós estamos determinados a continuar agora e demonstrar para o mundo como preservação, defesa e desenvolvimento podem ser conciliados na Amazônia.

BBC – Na sua carta de renúncia, a ministra Marina disse que não teve todo o apoio do governo que achava necessário para fazer seu trabalho. É possível ter diferentes ministérios trabalhando juntos neste governo em torno da Amazônia?

Mangabeira Unger – O presidente me deu essa tarefa de coordenar os programas de desenvolvimento para a Amazônia,e ele disse que uma das razões pelas quais fez isso é que não queria que a coordenação da política para Amazônia fosse feita por um ministério especializado.

É muito natural para um ministro do Meio Ambiente estar primeiramente preocupado com a preservação do meio ambiente, mesmo que enfatizando um comprometimento com o desenvolvimento. Da mesma forma que para o ministro da Agricultura é natural que ele esteja primeiramente preocupado com a produção agrícola. É muito natural que esses diferentes ministros tenham diferenças de ênfase. O presidente sentiu que a coordenação de uma questão de tamanho significado para a nação não deveria ficar na mão de um ministro especializado. Essa foi a posição dele.

Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deixou o governo Lula alegando falta de apoio político

O compromisso fundamental do governo com o desenvolvimento sustentável na Amazônia permanece inalterado. E nós estamos determinados a continuar agora e demonstrar para o mundo como preservação, defesa e desenvolvimento podem ser conciliados na Amazônia.
Roberto Mangabeira Unger

BBC – Segundo alguns órgãos de imprensa, um dos motivos que motivaram saída da ministra seria sua indicação para coordenar o PAS. Foi isso que ocorreu?

Mangabeira Unger – Eu não posso especular sobre os motivos. Estive viajando o dia todo e nem li a carta de demissão. E isso não é a minha preocupação. Minha preocupação é a tarefa que me foi dada. Essa é uma grande tarefa, não apenas para o nosso país, mas para o mundo todo. Temos que nos perguntar o que desenvolvimento sustentável realmente significa e do que necessita.

BBC – E do que necessita?

Mangabeira Unger – Há três pré-condições fundamentais. A primeira é a questão da propriedade da terra. Temos que esclarecer a titulação e a posse da terra. O segundo pré-requisito é que se faça um zoneamento ecológico e econômico da Amazônia, que possa definir uma estratégia para a Amazônia sem floresta, não só a que foi desflorestada, mas também aquela parte que nunca teve floresta, e outra para a Amazônia com floresta. A terceira pré-condição é a construção de um regime regulatório e fiscal que garanta que a floresta em pé valha mais do que a floresta cortada. Uma vez que essas pré-condições estejam satisfeitas, podemos tocar os quatro principais pontos de trabalho que nos foram dados para dar um conteúdo prático à idéia de desenvolvimento sustentável.

BBC – E quais seriam esses pontos?

Mangabeira Unger – O primeiro trabalho é tecnológico: a construção de uma tecnologia apropriada para a floresta tropical. Quase toda a tecnologia florestal disponível no mundo se desenvolveu para lidar com florestas temperadas, que são muito mais homogêneas e menos ricas que as tropicais.

O segundo trabalho é técnico, a organização de serviços ambientais avançados na Amazônia, o que é mais fácil falar do que fazer. Para ter serviços ambientais avançados na Amazônia precisamos de pessoas altamente qualificadas, que estejam dispostas a viver e trabalhar fora das grandes cidades. Em todo o mundo, pessoas muito qualificadas querem viver em grandes cidades, e uma das razões é porque apenas nas grandes cidades eles têm acesso a serviços de alta qualidade. Ninguém no mundo descobriu ainda como prover serviços de alta qualidade em um amplo território. E esse é apenas um dos vários problemas novos que teremos que solucionar.

BBC – E quais seriam os outros?

Mangabeira Unger – O terceiro é legal e institucional, qual será o regime de propriedade sob o qual a floresta será gerida. Há uma tendência em países com floresta em todo o mundo de ir na direção de gerenciamento comunitário da floresta, como alternativa a um sistema de concessão para grandes negócios. Mas esse sistema de gerenciamento comunitário ainda tem que ser definido em um formato legal preciso.

E o quarto trabalho, e possivelmente o mais formidável deles, é o desenvolvimento da ligação entre a floresta e as indústrias, indústrias que transformem a madeira e outros produtos da floresta. Essas indústrias não vão surgir a menos que a gente crie incentivos econômicos, não apenas para que elas se instalem, mas também para que seja adicionado valor a essa atividade industrial. Então é um grande trabalho.

BBC – Ministro, para que tudo isso funcione é preciso que diferentes ministros, políticos e atores, que como o sr. mesmo disse têm diferentes visões e interesses, trabalhem juntos e também é preciso que sejam estabelecidas prioridades na Amazônia. O sr. estaria preparado para enfrentar, por exemplo, os planos do Ministério da Agricultura para a Amazônia?

Mangabeira Unger – Eu creio que se produz uma impressão falsa, por causa do foco de alguns em rivalidades e desentendimentos. A verdade é que há base para uma convergência inclusiva de opiniões no Brasil. Há algumas pessoas que deixariam a Amazônia como um santuário, um parque, para o deleite e benefício da humanidade. E há algumas outras que acreditam que desenvolvimento requer portar abertas para formas predatórias de exploração. Mas a vasta maioria do país se opõe a essas duas visões e está determinada a encontrar uma forma para reconciliar três compromissos: o compromisso com a conservação, o compromisso com um sistema de produção inclusivo e o compromisso de defesa da nossa soberania. O que está no cerne desses três compromissos é a definição de uma estratégia econômica coerente. Sem essa estratégia, não teremos o compromisso com a conservação.

Porção desmatada da Amazônia

Eu creio que se produz uma impressão falsa, por causa do foco de alguns em rivalidades e desentendimentos. A verdade é que há base para uma convergência inclusiva de opiniões no Brasil (…). A vasta maioria do país está determinada a encontrar uma forma para reconciliar três compromissos: com a conservação, com um sistema de produção inclusivo e com a defesa da nossa soberania.
Roberto Mangabeira Unger

BBC – Por quê?

Mangabeira Unger – A Amazônia não é um conjunto de árvores. É primeiro um grupo de pessoas, de 25 milhões de brasileiros. Se essas pessoas não tiverem oportunidades, elas serão forçadas a atividades econômicas desordenadas, o que levará ao desflorestamento. Da mesma forma, sem uma estratégia econômica não existirão estruturas econômicas e sociais na região. Uma região vasta sem essas estruturas não pode ser defendida. Ou seja, se quisermos solucionar o problema de defesa, de um lado, e da conservação, de outro, temos que ter sucesso em criar uma estratégia econômica coerente. E para lidar com essa tarefa temos que superar essa falsa disputa entre os dois extremos dos argumentos. Temos que olhar para o conteúdo.

BBC – Mas quando se olha para o conteúdo do PAS ele parece com um plano de negócios, mais do que um projeto de desenvolvimento sustentável…

Mangabeira Unger – Não concordo de forma alguma. Primeiro é preciso dizer que esse plano é apenas um ponto de partida. Não é um programa completo.

BBC – Mas o plano menciona uma série de grande obras, como hidrelétricas e portos, mas praticamente não toca na questão da preservação.

Mangabeira Unger – Eu não concordo. É verdade que os projetos do governo foram incluídos no documento, mas na verdade o compromisso com a preservação está em todo o texto. Mas o problema não é o texto. O trabalho aqui não é ficar interpretando o significado das palavras neste texto, porque como eu disse este plano é apenas um ponto de partida. A questão real é o que vem agora, como tomamos agora ações de curto prazo que possam ter um efeito imediato, mas que ao mesmo tempo sinalizem a direção em que planejamos avançar. E essa é a nossa preocupação agora. É por isso que estou aqui hoje (quarta-feira) visitando o governador do Amazonas e tenho a intenção de visitar todos os governadores da região amazônica. Estamos procurando por eixos que nos levarão do curto prazo para o longo prazo.

BBC – E que medidas seriam essas?

Mangabeira Unger – Hoje, por exemplo, nós discutimos que ações práticas podem ser tomadas para resolver a questão da propriedade da terra, nos colocando em um caminho acelerado para ir da posse à propriedade da terra. Também discutimos como podemos criar alternativas práticas para a produção em pequena escala para quem está nas zonas de transição entre a floresta e as áreas abertas, para que essas pessoas não sejam empurradas na direção das atividades ilegais. E ao mesmo tempo temos que ter um aparato do Estado monitorando esse processo. Também discutimos a construção de uma rede de parques industriais para transformar madeira e outros produtos da floresta. Além disso, também discutimos a questão da formação humana. A mais promissora das idéias é uma nova forma de formação secundária, que combinaria educação geral com educação técnica e profissional.

BBC – O sr. está falando de uma grande transformação do modelo de desenvolvimento da região, algo extremamente difícil e amplo. O que é preciso para que se possa realmente alterar esse modelo?

Mangabeira Unger – É preciso quebrar essa tarefa em tarefas menores, usando pequenas coisas para construir as grandes. É disso que precisamos. Estamos convencidos que a Amazônia é uma causa nacional e não uma causa local. É um grande laboratório nacional, não é uma fronteira apenas da geografia, mas também da imaginação. E é o terreno em que podemos nos reinventar e nos reconstruir. É um ponto simples na história do país. No século 19 nós ocupamos as costas, no século 20 caminhamos para o oeste e o centro do país e no século 21 vamos transformar o Brasil através da transformação da Amazônia. O que está em jogo na Amazônia é o futuro do Brasil.

BBC – O sr. acredita que o Brasil, a população, os políticos, os empresários estão preparados para realizar uma tarefa tão difícil?

Mangabeira Unger – Ninguém nunca está preparado para tarefas dessa magnitude.

Fonte: BBC Brasil

16 Comentários

  1. E pensar que esse cara podia ser o vice de um certopossivel candidato…
    Não é propaganda Edilson.É só lamentação.

    • Michel, Unger é o famoso santo de casa que não faz milagre.
      Vazaram com ele por N razões e uma delas suspeito ter sido o fato de fender pontos polêmicos o como aproximação com os Russos no programa do PAK FA, claro que não foi só por isso.
      O Curioso e irônico é que ele retorna para onde tem voz, em Harward nos EUA de onde foi professor do atual presidente Obama, mas no Brasil ele não voz, está certo, temos pensadores de sobra manda pra lá eles estão precisando masi do que nós não é?
      sds
      E.M.Pinto

  2. “A Amazônia não é um conjunto de árvores. É primeiro um grupo de pessoas, de 25 milhões de brasileiros. Se essas pessoas não tiverem oportunidades, elas serão forçadas a atividades econômicas desordenadas, o que levará ao desflorestamento.”

    Clap, clap…

  3. Raptor :
    “A Amazônia não é um conjunto de árvores. É primeiro um grupo de pessoas, de 25 milhões de brasileiros. Se essas pessoas não tiverem oportunidades, elas serão forçadas a atividades econômicas desordenadas, o que levará ao desflorestamento.”
    Clap, clap…

    Falou é disse, e mt facil falar p ñ desmatar estando com a barriga cheia, bem alimentado,encastelado em seusa apes; vai viver a realidade dos ribeirinhos, aê a coisa muda de figura. Tem-se q ajudar os mesmos e terem melhor IDH, se ñ e chuver no molhado, Sds.

  4. tive um sonho incrível sobre a amazônia, gigantescos hovercrafters trafegando sobre as árvores, com turbinas a vapor dágua pressurizada aquecidas por baterias solares, em colchões de ar de fibra de pvc, fibra de bananeira e carbono nano estruturadas, com estaç~es suspensas. Vou manda o projeto pro Manga, nada de trilhos rasgando a terra, nada de asfalto, só industrias puras, sem rejeitos e obrigatoriedade de usar a madeira pra cada uma árvore abatida dez repostas, incentivo fiscal a industrias inteligentes e´por aí vai…

  5. Parece que quando olhamos para a Amazonia so conseguimos enxergar desmatamento né?E é so isso que la ocore e essa é a causa de todo problema né mesmo.Sabem porque a maioria de nós pensa assim?Porque fomos doutrinados midialiticamente para dizer-mos e pensar-mos PAZ E AMOR E VIVA AS PLANTINHAS VERDES…Aqueles que devastaram seus paises e vem usando a bandeira verde e a manipulação de nossas Etnias não estão nem ai pra nada disso.A eles so importão riquesas,posses,interesses.Ate muitas dessas entidades Internacionais que aqui estão muitas delas são usadas ate mesmo involuntariamente.Eles os Caciques do mundo apenas querem ver garantidas suas necessidades por materias primas e ate quem sabe a possibilidade de futuramente por razão de algum cataclisma ou fenomeno,mudarem-se para ca e desfrutarem deste ceu,desta temperatura,desta gente morena pacifica e ainda se enriquecerem.

  6. Prezado E.M. Pinto

    Agradeço muito a publicação desta entrevista. Considero importante que se discutam os problemas da Amazonia na sua totalidade, economica, política,militar e social, pois só uma vertente torna manca a nossa análise e esbarra no que eu considero a “síndrome da ex-caserna”, que certos oficiais da reserva das FA manifestam tão frequentemente. O Prof. Magabeira Unger deu uma contribuição inestimável para o debate da Amazonia indicando e fortalecendo a necessidade de um plano amplo de desenvolvimento economicamente viável e ambiental e socialmente sustentável. Mais de 20 milhões de pessoas vivem lá e elas estão muitas vezes alijadas da cidadania. É aí que entram as ações criminosas e o fantasma da ameaça a nossa soberania.

    • André é o meu dever.
      Quanto ao pronunciamento dos militares, tenho que concordar com muita coisa do que eles dizem, pro décadas e até mesmo hoje em dia, em muitos rincões da amazônia os únicos instrumentos do Estado lá são os militares, a cada dia há mais e mais relatos deles sobre este tipo de “agressões” a soberania, e muito dos estudiosos da amazônia sequer lá foram para ver a realidade, muitas teses são produzidas mas de fato.
      Eu sou de lá por isso falo por experiência própria, há muita boa vontade no governo, mas muitos aproveitadores também.
      Infelizmente nos grupos de estudos da UNB entre outras universidades poucos ou quase ninguém esteve de fato lá para ver o que se passa, brasília produz teses e políticas muito dissociadas da realidade local amazônica pelo simples fato de nunca lá irem.
      Faça um exercício prático, questione seus professores estudiosos do tema sobre a frequência, datas e situações em que estiveram lá e onde.
      O País está acordando agora para o tema e é natural que haverão conflitos, sou defensor da causa e da proposta do Mangabeira Unger, e não retiro nada do que ele disse, mas acho que as autoridades estão pecando não pela idéia e sim pela forma.
      sds
      E.M.Pinto

  7. Anonimo :Tenho medo dos comunistas. Querem acabar com o Senado. A única coisa que lembra que este país é democrático.
    Fora cambada!!!!!!!!!!!!!

    Contra burgues, vote **!!!!

  8. Edu Nicácio :
    Se o Jobim sair do MD, gostaria de ver o Unger ocupando a pasta…
    Esse cara é phod@…

    SOU CEM POR CENTO E MEIO QUE SE SUBSTITUA O CACIQUE FALASTRÃO POR UM DE ELEVADO Q.I. E VISÃO ESCLARECIDA COMO O MANGABEIRA

  9. “Vazaram com ele por N razões e uma delas suspeito ter sido o fato de fender pontos polêmicos o como aproximação com os Russos no programa do PAK FA”

    É, mas vale lembrar que, antes disso, o Unger era um dos maiores defensores do Rafale com vetor vencedor do FX-2, pela ToT…

  10. Hummm e isso evidencia uma mentira que querem que acreditemos…Eles dizem que foi a FAB quem descartou o Sukoy…Tenho a certesa que foi o medo do governo de desagradar a Tio San…Seria um traidor Nacional um homem que defendia a aquisição da melhor tecnologia?…Note que a falta de intendimento e imparcialidade não é so defeito do povo,mas do sistema que tambem é atrelado a ideologias e conveniencias…A culpa não é do analfabeto.Ele tem coração sensivel e boa indole pois ja sentiu fome,ja ganhou salario,ja apanhou da policia,e sim dos que o assessoram e aconselham.O que sera de nós quando ele sair e os chacais assumirem???

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