Blair, Brown e o Iraque

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Demorou bastante, sete anos para ser preciso. Mas agora, após o fim da operação militar britânica no Iraque, apesar de bombas continuam matando inocentes no país, começam a ser revelados os bastidores do processo que colocou a Grã-Bretanha na guerra. Desde o fim do ano passado, uma investigação liderada por John Chilcot promete trazer as respostas definitivas sobre as razões que levaram o governo britânico a participar da invasão do Iraque com os Estados Unidos, em 2003, para derrubar o governo de Saddam Hussein, mesmo sem uma autorização explícita do Conselho de Segurança da ONU. Algumas dessas respostas começam a aparecer, e muito mais ainda está por vir.

Nesta terça-feira, o principal conselheiro jurídico do Ministério do Exterior britânico na época da guerra, Michael Wood, afirmou em seu depoimento ao inquérito que o então chefe da pasta, Jack Straw, rejeitou sua avaliação de que uma invasão do Iraque seria ilegal. “Eu considerei que o uso de força contra o Iraque em março de 2003 iria contra a legislação internacional”, afirmou Wood. O conselheiro não pediu demissão na época, mas sua subordinada, Elizabeth Wilmshurst, o fez. Ela também prestou depoimento nesta terça e reafirmou que a guerra, na sua avaliação, era ilegal. Especialistas ouvidos pela BBC já disseram que um ministro de Estado rejeitar a orientação jurídica de seu principal conselheiro, num assunto de tamanha importância, é algo sem precedentes. O próprio Michael Wood afirmou que sua avaliação nunca havia sido rejeitada por nenhum outro ministro do Exterior.

O inquérito Chilcot, como é chamado, começou de forma relativamente chata. Analistas diziam que os investigadores estavam sendo bonzinhos demais com as testemunhas, especialmente com Alastair Campbell, ex-diretor de Comunicação do então primeiro-ministro, Tony Blair. Os depoimentos são transmitidos ao vivo pela TV e pela internet, mas não chegam aos pés das CPIs brasileiras em termos de emoção, bate-boca, caos e divertimento. Todos falam baixo, ninguém fala em cima do outro, perguntas e respostas tendem a ser objetivas e pronunciadas de maneira bastante calma. Tipicamente britânico. No entanto, o clima promete esquentar nas próximas semanas, quando o inquérito ouvirá as duas mais importantes e interessantes testemunhas desse processo: o atual e o anterior primeiro-ministros, Gordon Brown e Tony Blair, respectivamente.

Blair será ouvido primeiro, já nesta sexta-feira, e a expectativa é enorme, como não poderia deixar de ser. Especialmente depois de o ex-premiê ter dito, em entrevista à BBC no final do ano passado, que teria invadido o Iraque mesmo se já soubesse que não havia armas de destruição em massa no país. Seu depoimento será uma oportunidade única de ver Tony Blair na TV, quase ao vivo (há uma demora de um minuto na transmissão para evitar que informações confidenciais sejam divulgadas), respondendo a perguntas sobre o episódio mais desastroso de seus dez anos no governo. Mas isso não será o fim dessa emocionante fase do inquérito: o premiê Gordon Brown, que falaria apenas depois das eleições gerais (esperadas para maio e que podem deixá-lo sem emprego), aceitou dar seu testemunho antes do pleito, o que pode inclusive ter influência no próprio resultado eleitoral.

Aos poucos, os bastidores da guerra no Iraque, pelo menos aqui na Grã-Bretanha, começam a aparecer. Se a conclusão do inquérito for de que a guerra foi ilegal, haverá uma enorme pressão para que os responsáveis por ela respondam à Justiça, criminalmente. Neste momento, tal possibildade ainda parece remota, mas já não pode ser descartada.

Fonte: BBC Brasil

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