Executivo britânico é acusado de fraude em detector de bomba usado no Iraque

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Riyadh Mohammed e Rod Nordland
Em Bagdá (Iraque)

O proprietário de uma empresa britânica que fornece detectores de bomba questionáveis ao Iraque foi preso sob acusações de fraude, além da exportação dos aparelhos ter sido proibida, confirmaram autoridades do governo britânico no sábado.

As autoridades iraquianas reagiram com fúria à notícia, lembrando a série de atentados a bomba horríveis dos últimos seis meses, apesar do amplo uso dos detectores de bomba nas centenas de barreiras de segurança na capital.

“Esta empresa não apenas causou perdas graves e imensas de fundos, como causou perdas graves e imensas de vidas de civis iraquianos inocentes, às centenas e milhares, em ataques aos quais achávamos estar imunes por possuirmos esses aparelhos”, disse Ammar Tuma, um membro do Comitê de Defesa e Segurança do Parlamento iraquiano.

Mas o Ministério do Interior não retirou o equipamento de serviço e os policiais continuam os utilizando.
As autoridades iraquianas disseram que começariam a investigar por que seu governo pagou pelo menos US$ 85 milhões à empresa britânica, a ATSC Ltda., por pelo menos 800 detectores de bomba, chamados ADE 651.

A embaixada britânica se ofereceu para cooperar com qualquer investigação do governo iraquiano.
O “New York Times” noticiou as dúvidas oficiais a respeito do aparelho em novembro, citando oficiais militares americanos e especialistas técnicos que diziam que o ADE 651 era inútil, apesar de seu amplo uso no Iraque.

O ADE 651 é um bastão manual sem pilhas ou componentes eletrônicos internos, alimentado pela eletricidade estática do usuário, que precisa se movimentar para carregá-lo. A única parte móvel é o que parece uma antena de rádio em um tornel, que balança na direção da presença de armas ou explosivos.

“Nós estamos realizando uma investigação criminal e, como parte dela, um homem de 53 anos foi preso sob suspeita de fraude”, disse um porta-voz da Polícia de Avon e Somerset, na Inglaterra, sem citar o nome do suspeito, seguindo a política da polícia. O suspeito foi solto sob fiança, disse o porta-voz.

“A força ficou ciente da existência de um equipamento em torno do qual havia muitas preocupações e, no interesse da segurança pública, lançou sua investigação”, disse o porta-voz da polícia.

A identidade do suspeito foi amplamente divulgada pela imprensa britânica como sendo Jim McCormick, diretor-gerente da ATSC Ltd., que opera em uma fazenda convertida no condado rural de Somerset, Inglaterra. As reportagens descreviam McCormick como sendo um ex-policial britânico de Merseyside.

Contatado por telefone, McCormick se recusou a comentar a respeito das acusações ou do caso contra ele, mas insistiu que a ATSC permanecerá nos negócios. “Nossa empresa ainda está plenamente operacional”, ele disse.

Uma declaração emitida pelo Departamento Britânico para Negócios, Inovação e Habilidade disse ter proibido a exportação do ADE 651 e dispositivos semelhantes para o Iraque e Afeganistão.

“Testes mostraram que a tecnologia usada no ADE 651 e em dispositivos similares não é adequada para detecção de bombas”, disse o departamento. “Nós agimos com urgência na imposição de restrições a importação, que entrarão em vigor na próxima semana.” A declaração disse que o departamento poderia proibir a exportação para esses países porque as tropas britânicas poderiam ser colocadas em risco pelo uso do dispositivo. A ATSC disse ter vendido o dispositivo para 20 países em desenvolvimento.

O Conselho Supremo de Auditoria no Iraque anunciou que investigará a aquisição dos ADE 651, segundo o líder do conselho, Abdul Basit Turki. A investigação se concentrará nas autoridades que asseguraram anteriormente aos auditores que o dispositivo era tecnicamente garantido, ele disse.

O general Jihad al Jabiri, que está encarregado da aquisição dos dispositivos para o Ministério do Interior, não foi encontrado para comentários.

No sábado em Bagdá, os dispositivos ainda permaneciam em uso. “Eu nunca acreditei neste dispositivo”, disse um policial em uma barreira de segurança no centro de Bagdá, que falou sob a condição de anonimato, porque não estava autorizado a falar com a imprensa. “Eu fui forçado a usá-lo pelos meus superiores e ainda sou forçado a isso.”

Outro policial de barreira de segurança culpou autoridades corruptas pela compra dos ADE 651. “Nosso governo é o culpado por todos os milhares de espíritos inocentes que foram perdidos desde que esses dispositivos passaram a ser usados no Iraque”, ele disse.

Um associado da ATSC, que falou sob a condição de anonimato por medo de retaliação, disse que os dispositivos eram fabricados a um custo de US$ 250 cada por fornecedores no Reino Unido e na Romênia.
“Todo mundo na ATSC sabia que não havia nada dentro do ADE 651”, ele disse.

O governo iraquiano, segundo seus auditores, pagava de US$ 40 mil a US$ 60 mil por cada dispositivo, apesar de ter levantado que a ATSC vendia o dispositivo por US$ 16 mil. O dinheiro adicional supostamente era para treinamento, peças sobressalentes e comissões.

O “Times” de Londres citou McCormick em novembro como tendo dito que a tecnologia do dispositivo era semelhante à vara de vedor ou radiestesia utilizada para encontrar água. “Nós lidamos com pessoas que duvidam há 10 anos”, ele disse. “Um dos problemas que temos é que o dispositivo parece primitivo. Nós estamos trabalhando em um novo modelo com luzes que piscam.”

Logo após a prisão na sexta-feira, a “BBC” noticiou que o dispositivo foi testado em laboratório e foi descoberto que seu componente de detecção de bomba é uma etiqueta eletrônica de mercadoria como a usada para impedir furto em lojas.

Os manuais da ATSC alegam que o ADE 651 pode detectar traços diminutos de explosivos, drogas ou até mesmo restos mortais humanos a distâncias de até 10 quilômetros pelo ar, ou 1 quilômetro em terra. Testes científicos de dispositivos semelhantes mostram que eles são tão precisos quanto jogar uma moeda para tirar no cara ou coroa.

Sugestão e colaboração: Gérsio Mutti

Tradução: George El Khouri Andolfato

Fonte:UOL