AS GUERRAS DO FUTURO

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Gustavo Alberto Trompowsky Heck

A conquista e a posse soberana de territórios foram determinantes nas guerras do passado. Na atualidade, esse tipo de conflito é menos frequente, devido em parte ao desenvolvimento do direito internacional e à criação de instâncias jurídicas que passaram a regular os contenciosos territoriais.

Nos tempos modernos, as novas formas de colonização, baseadas no domínio financeiro e de capitais, na expansão das empresas transnacionais e do mundo virtual, o domínio territorial, em sua forma clássica, parece ter cedido sua importância.

Alvin e Heidi Toffler falam que as disputas dos próximos anos se darão em função de questões ligadas ao meio ambiente; à emigração; ao narcotráfico; à violação dos direitos humanos; à propriedade intelectual; à venda de armas e, o terrorismo.

A origem desses novos conflitos – pós-guerra fria – não estará associada a questões de ordem ideológica, mas sim à incessante busca por recursos naturais; por movimentos separatistas e nacionalistas (grupos étnicos desejosos em obter o seu próprio espaço); guerras revolucionárias (imposição de uma ideologia política); lutas pela democracia; anticolonialismo e outros.

O que parece real e concreto, como mostrou Michael Klare, é que as contendas do futuro estarão associados à posse e controle de recursos econômicos vitais para a indústria e o bem estar da sociedade. Por isso mesmo Pascal Boniface, ao concordar com Klare, enfatiza que os enfrentamentos do futuro serão: a guerra pela água, a guerra pelo meio ambiente e a guerra pela fome.

Para muitos estrategistas, nos próximos 25 anos, a principal causa de conflitos entre vários países será pela água. Segundo estudo da ONU, até 2030 países que compartilham as mesmas bacias hidrográficas e rios entrarão em guerra, principalmente na África. Cerca de 3,9 bilhões de pessoas no mundo poderão sofrer com a falta de água até 2030, 1,7 bilhão a mais do que hoje. Isso representa 47% da população mundial estimada para 2030. E, embora as projeções sejam mais dramáticas para nações pobres, 2,2 bilhões dessas pessoas estarão distribuídas no chamado BRIC (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China).

Assim, e levando em conta as observações e projeções anteriores, o chamado TO (Teatro de Operações) das “guerras do futuro” deverá localizar-se em regiões como: norte da América do Sul (petróleo, água e madeira); África Central (petróleo e madeira); Golfo Pérsico (petróleo), sul e sudeste da Ásia, Indonésia e ilhas do pacífico.

Nesse sentido, o Brasil, em razão da sua posição geoestratégica, de seus incontáveis recursos – maior reserva de água doce do planeta, fontes alternativas de energia e sua extraordinária capacidade de produzir alimentos – será um ator importante em qualquer dos cenários exploratórios que se venha a construir sobre os possíveis conflitos do século XXI.

Nosso país, mais do que nunca, precisa estar preparado para defender sua soberania de forma responsável, tendo em conta a tendência, ora observada, da internacionalização de certos temas – como é o caso da questão ambiental – o que poderá justificar, mais adiante, o chamado “dever de ingerência” por parte de algumas nações ou blocos.

“O Brasil precisa de uma estrutura de defesa compatível com seu novo papel de destaque no cenário internacional”, como coloca Nelson Jobim. O que se espera, com absoluta certeza, é que a nova Estratégia Nacional de Defesa se torne uma realidade concreta.

Gustavo Alberto Trompowsky Heck é membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e Assessor do Colégio Interamericano de Defesa (CID)

Sugestão e colaboração: Konner

Fonte:  Reservaer